quarta-feira, 11 de julho de 2007

Mecanismos de interesse e outras histórias

“Os voluntariosos encaram a torcida” – Ezequiel: I, 9-10

“Parmera!”

Vi a mensagem na tela do meu celular. Era um torpedo do Palestrino, que comemorava o 1x0 contra o Coringão e ao mesmo tempo decretava a queda livre do alvinegro.

Que as coisas no Timão são sempre vertiginosas todo mundo sabe. Mas sair da segunda colocação com um jogo sonegado contra o Botafogo, perder pro Porco, pro Sport e ir parar na 13ª posição é bung-jump. Saímos da zona de classificação para a Sul-Americana (que por si só já é um torneio de losers) e ficamos a três posições do pântano do rebaixamento. O empate com o Flu não deixou a corda arrebentar de vez e subimos à 11ª posição.

Nessa brincadeira, foi-se Marcelo Mattos, o último atleta MSI, mas esta fica no Coringão – sem pôr dinheiro, sem tirar Alberto Dualib, mas oficialmente brigada com ele. Soube, aliás, que o presidente impediu o clássico com São Paulo no Pacaembu porque na casa corintiana ele não teria saída privativa e teria de encarar a torcida. Só este parágrafo caracteriza uma situação inspiradora de um Dali em seus momentos mais geniais.

A bola ficou oval para o Corinthians. Sina de sofredor? Talvez, e isso me lembra de uma história dos tempos de campinho. Contava eu meus 11 anos e, junto dos amigos de pelada, íamos freqüentemente ao hipermercado Ultracenter, hoje Carrefour Pinheiros, no meu bairro, Chácara Santo Antonio, Zona Sul. Ali, os garotos simplórios nos detínhamos sempre num enorme cesto de metal repleto de bolas de capotão, de vários tamanhos e cores. Naquela época as bolas eram numeradas de acordo com o tamanho e o meu objeto do desejo era a bola número 4, porque, na minha mente de garoto, era uma bola de “adultos”.

Tanto pedi que meu pai me deu uma de Natal. Era amarela e preta, com os gomos à moda antiga, meio horizontais com umas curvas, e não com os hexágonos e pentágonos comuns hoje. Foi uma sensação indizível. A bola não só seria minha companheira de quintal, mas me tornaria “o dono da bola” na rua. De último ou penúltimo a ser escolhido para os times, eu ganharia privilégios de escolhedor dos times, ou seria o primeiro a ser escolhido, fruto desses mecanismos de interesse que fazem um Doni ser goleiro titular na Copa América. Era o brilho de uma bola amarela e preta novinha em folha.

Mas só por uma vez. No primeiro chute a gol do Pelé (nosso craque da rua) com a redonda tinindo, no primeiríssimo disparo, ela se dirigiu célere pelo asfalto em direção ao cruzamento próximo e foi colhida pelos pneus de um reluzente Fusca 1600 ano 1970. A bola ficou para sempre oval e terminou seus minutos de glória ali. Eu também.

Pra que time eu tinha de torcer?

2 comentários:

João de Barro disse...

Pra Portuguesa, América-RJ, Juventus ou Botafogo, porque certas coisas só acontecem com esses times, perpetuando a saga loser.

Don disse...

Essa trajetória tem mais a cara da Lusa, mas ainda assim vc preferiu um degrau abaixo...