sábado, 14 de abril de 2007

Mistérios da humanidade: a bandeira da Torcida Jovem

O Santos empatou hoje com o Bragantino pela semi do Paulistão, em 0 X 0, com um homem a mais desde os 15 do 2º tempo. Jogou mal pra burro, mas não falarei sobre isso. O Caiçara deve desancar o “pofessô” Luxemburgo na segunda-feira, no máximo.

O detalhe para o qual quero atentar é o seguinte: teria a Torcida Jovem do Santos feito o bandeirão estendido durante o jogo de hoje apenas para os jogos da capital? Ela é mais ou menos do mesmo tamanho daquela que a Gaviões usa nos jogos do Corinthians, e certamente não cabe na Vila Belmiro – tenho certeza, pois já assisti a alguns jogos lá.

A Vila é um estádio aconchegante, bonitinho, o sorvete é bom, e a proximidade com o campo proporciona um contato interessante entre a torcida e os protagonistas do espetáculo (dá até para cuspir nos bandeiras ou num desavisado que vá cobrar um lateral - pergunte ao Caiçara quantas vezes ele já fez isso). Mas não cabe uma bandeira daquele tamanho. É possível que eu faça uma investigação a respeito.

Aliás, de onde saiu aquela bandeira? Eu nunca havia visto. Que eu me lembre, existia uma menor, justamente para ser estendida na Vila, nas arquibancadas atrás do gol do placar eletrônico.

Alguém pode eventualmente perguntar o que eu tenho a ver com isso, mas uma das minhas funções aqui é ser chato mesmo. Caso você não tenha percebido, aí no cabeçalho está escrito “uma visão politicamente incorreta do futebol.”

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Ipitanga na cabeça

Todo apostador mais viciado na Esportiva sabe: há algumas rodadas no ano em que a Caixa é obrigada a improvisar, como consequência da entressafra dos campeonatos mais importantes. Em alguns anos, no mês de janeiro geralmente há uma grande baba: a última rodada da primeira fase da Copa São Paulo de Juniores. Dois jogos já feitos e grupos definidos, acertar os 14 jogos é tarefa bem mais fácil do que nas outras semanas do ano.

No entanto, para este final de semana a Loteca vai chutar o balde. Quando a programação foi feita, semanas atrás, não se sabia que jogaria amanhã e domingo pelos estaduais de São Paulo, Rio, Paraná, Rio Grande do Sul e Minas. O resultado é um festival de aberrações. Para tentar ajudar o amigo apostador, vou publicar aqui meus palpites infalíveis:


Alguns jogos são páreo duro: Poções X Vitória, por exemplo, pelo Baianão. O Vitória vem bem, é o líder, mas o Poções é um time conhecido por enfeitiçar seus adversários – é o 5º, empatado em pontos com o Atlético, quase classificando-se para as semis. Vou de Poções.

Outro jogo complicado é Ipitanga X Colo Colo, também pelo Baianão. Os dois estão na rabeira, mas o Ipitanga joga em casa, no Ipitangão, em Lauro de Freitas. Além disso, já revelou vários talentos, como Bida, Narcisio e Garrinchinha. Coluna 1.

SP tem dois jogos, ambos da Segundona: Guarani X Lusa (coluna 2, fácil) e Rio Preto X União São João. Alguém aí viu algum jogo do Rio preto em 2007? Alguém aí viu algum jogo do Rio preto na vida? Bem, nem eu. Coluna 1.

E o Potiguarzão está animado: O Baraúnas tomou de 4 X 1 do América no último jogo, e vai entrar mordido: coluna 2 (ganha um doce quem explicar nos comentários o que é um, ou uma, Baraúna). E o ABC (2º) detona o Potiguar (8º) – dou três de lambuja nesse.

É isso aí, amigos. Espero que todos fiquemos ricos neste final de semana – claro, não estou incitando ninguém a apostar em jogos de azar. Quero deixar que sou contra esse tipo de modalidade, que pode destruir a vida de alguém, acabar com sua família etc.

Alguém aí topa uma ida ao Jóquei no domingo?

PS: Agradecimentos ao meu irmão Thiago, que deu a dica do post e levou o doce.

Avaliação semanal do Rodrigol: Botafogo X Vasco

Caros 12 leitores, após uma semana cheia de textos rebuscados, os quais - tenho certeza - significaram meses de preparação, vocês provavelmente estão com uma expectativa enorme para a sexta-feira. Então aqui estou eu, para cortar este entusiasmo: a sexta-feira é o meu dia. E eu não estou com saco para buscar palavras no dicionário e fazer frente aos meus colegas.

Em compensação, resolvi, logo na estréia, instituir uma coluna fixa: a Avaliação Semanal do Rodrigol. Toda sexta aplicarei meus critérios científicos numa das partidas realizadas a partir da segunda-feira anterior – ou seja, não valem jogos disputados no final de semana.

Os critérios foram definidos de acordo com a visão que tenho do futebol: o que acontece dentro de campo é só parte do espetáculo, e quanto mais politicamente incorreto, melhor. Por isso, os quesitos que você verá no quadro abaixo podem parecer estranhos no começo – mas farão todo o sentido depois, você vai ver.

Além disso, para a avaliação de cada um deles utilizarei a Escala Fareana de Avaliação, sistema métrico que nasceu involuntariamente das ações de Rafael Faro, vulgo Palestrino, participante deste blog. “Uma bosta” é a nota mais baixa, e “Craque”, a mais alta – para ler a descrição completa, clique aqui.

O primeiro jogo a ser avaliado é Botafogo X Vasco, disputado na última quarta-feira, 11 de abril, no Maracanã, pela semifinal da Taça Rio. Só vale o tempo normal – pênaltis são desconsiderados. Aí vão as notas:

Expectativa pré-jogo: Craque. Clássico, rivalidade, semifinal de Taça Rio (é tosco, mas é legal), a perspectiva do “milésimo” (bom, isso já está ficando chato). Foi o assunto da semana – em Ipanema.

Tática: FRAAACO. Renato Gaúcho entrou num 3-6-1, tendo como único atacante o Romário justo quando ele se torna o cara mais marcado de todos os tempos – ninguém quer levar o “milésimo”, certo? O Bota entrou mais arrumadinho, é verdade. Mas mesmo assim, aos 3’ estava 2 X 0 para o Vasco, o que nos leva ao item abaixo.

Habilidade: Uma bosta. A defesa do Botafogo – Juninho e Alex – deu de presente quatro gols para o Vasco. Sorte deles que o time da colina resolveu retribuir – isso porque o Cássio, goleiro do Vasco, acha que seus dedos têm 20 centímetros a mais do que realmente têm.

Entrevistas do meio-tempo: NORRRMAL. Acho que os sete gols deixaram os jogadores meio atordoados. Apenas declarações políticas.

Polêmicas e erros do juiz: Craque. Teve até tapa na cabeça e bola chutada em cima do adversário não percebidos pelo árbitro Fábio Calábria. O juizão expulsou o Túlio, do Bota, por escutar ele dizer “Vai tomar no C*”, quando o pobre volante disse apenas “Você está louco, porra!” (minha leitura labial não falha). O cara não lava o ouvido faz 10 anos. Nesse momento o banco do Botafogo invadiu o gramado, e a polícia interveio. Depois, Calábria mandou para o chuveiro o Alex Dias, do Vasco, que jogou três minutos e passou um rabo-de-galo criminoso num sujeito do qual o nome eu não me lembro – foi justo, mas ficou com cara de compensação.

Brigas em campo: FRAAACO. Muita polêmica, poucas vias de fato. Entreveros leves.

Entrevistas pós-jogo: Bom jogador. Romário alegou câimbras para fugir das penalidades – obviamente não queria que o “milésimo” saísse desse jeito, além de toda a sorte de brincadeiras que isso iria gerar. Jogadores do Botafogo saíram metendo a boca no juiz (no bom sentido).

Torcidas: Bom jogador. Ecoaram gritos, cantos e palavras de ordem durante todo o jogo – nesse ponto acho que o design do Maracanã ajuda, embora nunca tenha visto um jogo lá. Achei a torcida do Botafogo meio esquentada – com 8' de jogo a sra. Mãe do Juiz já havia sido homenageada duas vezes.



quinta-feira, 12 de abril de 2007

Lembranças em preto e branco

Os voluntariosos serão louvados! (Ezequiel, I: 9-10)
Bem-vindos a este campinho.

Quando eu era criança, campinho era a forma como chamávamos qualquer local que servisse para uns moleques baterem uma bola e isso nos preenchia com aquele prazer místico próprio da infância.

Como neste blog temos o mister de falar de futebol como moleques, sem apitos, bandeiras (se for a Ana Paula Oliveira podemos pensar) ou 4-4-2, resgato hoje essa denominação para este espaço em que pretendemos mesmo nos divertir como naqueles dias distantes em que fazíamos golaços em gol-caixote. Lembranças em preto e branco, essas cores tão caras a mim.

Gol-caixote era obrigatório nos campinhos, aquelas duas pedras ou dois pés de tênis distantes um metro um do outro que serviam como meta e dispensavam goleiro. Hoje, muitos meninos têm de pagar para jogar em quadras de “society”, que levam nomes como High Soccer. Mas devem transcender do mesmo jeito.

Campinhos podiam ser o terreno vazio do vizinho, podiam ser o quintal da minha casa, que tinha um arbusto magro no meio, o qual destruímos com nosso jogo de corpo, ou podiam ser como o Vermelhão, de Londrina, que tinha as dimensões de um campo oficial e possuía traves de ferro, apesar do chão duro de poeira rubra que lhe dava nome e que nos ralava inteiros. Tudo podia, basta dizer que classificávamos no diminutivo (campinho) aquela planície batizada no aumentativo (Vermelhão).

Esse Vermelhão encerrava toda a liberdade a que moleques boleiros poderiam se permitir, com tudo o que as liberdades trazem também de sacrifício. Espalhávamos-nos desordenados e distantes uns dos outros (nunca eram 11 contra 11, no máximo seis contra seis), quase sem compromisso com o time, o que nos permitia arrancadas com a bola nos pés por longos metros levando um oponente ou outro e não raro entrávamos com bola e tudo no gol, vencendo um goleiro de 12 anos que nada podia fazer para defender o latifúndio de ar de 7,30m por 2,40m.

Por outro lado, nossas roupas perdiam-se indelevelmente após cada partida, transformadas em andrajos de tom avermelhado da poeira; nossos tênis, idem; sem falar nos muitos incidentes que um campinho de verdade sempre reserva a seus artistas.

O Paulão, por exemplo, um loiro que aos 14 anos já se elevava a 1,80m de altura, certa vez teve cravado na sola do pé (jogava descalço) um enorme caco de vidro que alcançou até o osso. Ficou para sempre com os dedos do pé virados para cima e, com o tempo, passou a andar como o Patolino do desenho, já que o pé sadio estranhamente imitou a deformidade do pé doente. Paulão era exímio goleiro de futsal (só defendia com os pés) e assim seguiu mesmo depois do revés.

Essa bagunça que mantém viva a mágica do futebol rondará com mais freqüência esse lado do campinho, pairando acima dos esquemas táticos e escondendo a falta de conhecimento técnico do seu ocupante.

Caiçara e Palestrino, acho, a assoprarão, esquadrinhado com mais afinco os movimentos de cada ator de uma peleja em nome de um diagnóstico. Mas, nisso, já flertarão com o incerto: toda a técnica e estratégia desenvolvida no futebol servem apenas para minimizar a fúria do imponderável que a física escancara no futebol. Daí sai a beleza que enxergo num Robinho, no velho camisa 8 Ezequiel e nos jogos vira 5 acaba 10 dos campinhos da infância.

Substituição no Corinthians

Sai Dualib, entra Lulinha.
Quem dera. Em toda a natureza e em todos os tempos é assim: o velho se vai para a aurora do novo. Menos no Corinthians. E devemos ver o novo ir embora e o velho ficar, autoritariamente definhando.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Palmeiras em prosa

Depois do belíssimo conto do Caiçara e da poesia declamada pelo Don, vou de de prosa mesmo para abordar o momento triste pelo qual passa o Palmeiras atualmente. Resolvi escrever sobre a situação vexatória da instituição, que está com a saúde financeira bastante debilitada, e do time, que se mostra frágil e desequilibrado.

O Palestra amarga quase nove anos sem títulos importantes, está fora da Copa do Brasil e praticamente desclassificado do Paulistão. O futuro também não se mostra promissor. A razão é simples. Como me disse um amigo certa vez: “gestão incompetente, equipe incompetente”. Pior, graças a Deus, só o time da MSI.

De qualquer forma, não dá para ignorar os tropeços administrativos do clube. Os anos de chumbo de Mustafá Contursi rendem frutos – podres – até hoje e o começo desastroso da atual diretoria também não ajudou muito – lembrem-se de que o todo poderoso até pouco tempo atrás era o Sr. Palaia, um sujeito caricato e com uma visão míope sobre futebol.

O Palmeiras precisa de uma mudança radical. Um primeiro passo, acredito, já foi dado na direção de modernizar a gestão. Os salários atrasados também foram pagos. É pouco. Isso resolve apenas parte do dilema vivido pelo clube. A alta cúpula precisa, de uma vez por todas, equilibrar as finanças, entender o que é planejamento e investir pesado na base.

Acertadas essas questões estruturais, cabe à diretoria definir um plano de vôo e um comandante. Na prática, o clube também precisa ter a definição clara de um objetivo, o que não vem ocorrendo historicamente e nem aconteceu nesse começo de ano, quando não escalaram o Edmundo para uma partida fundamental do campeonato que aparentemente era o prioritário. Essa é a única forma, mais rápida, de o time retomar o caminho dos títulos.

Bom sinal

Observo com especial interesse a titularidade de alguns jovens da base e do Palmeiras B. Diego, Wendel, David, Michael e William (se aprender a fazer gol!) são jogadores criados dentro de casa e que poderão dar alegrias para a torcida no futuro.

Apenas uma promessa

Antes de mais nada, é bom ficar claro que não sou favorável à troca desenfreada de técnicos no Palmeiras. Toda equipe, em qualquer setor, precisa de tempo para se acertar.

Mas é preciso saber que o Caio Junior é apenas uma promessa. Nunca ganhou nada e vem cometendo erros em jogos importantes. A paciência da torcida – e a minha – com ele ainda não se esgotou. (A minha) está quase.

Entre erros e acertos, Caio errou bem mais. Indiciou jogadores comuns – ruins -, escalou três zagueiros e dois volantes em vários jogos dentro de casa e o resultado não apareceu, fez substituições absurdas nos jogos contra o São
Paulo e o Ipatinga. Foi e continua sendo medroso.

Avalio que o técnico tem um mérito importante, que é o de escalar o Michael na sua posição original, e deu uma tremenda sorte porque o time mais ou menos se arrumou após a saída do Paulo Baier, que está mais para um jogador de pelada.

Escrevo o artigo antes do jogo decisivo contra o São Bento. Mas me causa decepção a escalação defensiva definida pelo técnico – Marcelo Costa no lugar do Edmundo não dá, em qualquer situação.

De novo, Caio Junior é apenas uma promessa. Pode se tornar um técnico de ponta. Ou pode ser mais um Estevam Soares na vida do Palmeiras.

terça-feira, 10 de abril de 2007

E o Diabo fez o futebol...

Numa dessas tardes de verão, caminhando pelo calçadão à beira-mar, observava a paisagem carioca. O mar azul e o verde do Corcovado só perdiam mesmo para as curvas que passeavam ao meu lado, um ir-e-vir de cores e formas que só o Brasil tem.

Lembrei de Luís Fernando Veríssimo e sua Comédia da Vida Privada. Em um de seus contos, Veríssimo explica que Deus, após ter criado o mundo, seus rios e mares, florestas e montanhas - e daí ter passado aos animais - pressentiu que algo faltava e pôs-se a pensar. Tanta reflexão levou à última e mais caprichada de suas criações. E assim o mundo ganhou a mulher.

Esse ser, de notada beleza e graça, daquela voz delicada que nos encanta com um simples sorriso. O andar leve, a pele macia, coxas longas e esguias, cintura torneada e seios que apontam para o céu. A escultura perfeita de Deus.

De repente, um brutamontes suado esbarra em meu ombro e me tira de tenros devaneios. O pecado de tirar o doce da criança, um homem de seus sonhos.

Michelângelo que me perdoe, mas aquele afresco na Capela Sistina é uma obra de ficção. Só posso crer que o ser humano do gênero masculino é coisa dos infernos e o Diabo, como bom sarrista, tratou logo de estragar os planos divinos. Com tudo o que Deus deixou de lado e mais um pouco de matéria-prima de seu lixo pessoal não-reciclável, o Capeta presenteou (presente de grego, diga-se de passagem) o planeta com o homem.

Pêlo no peito, careca lustrosa, barriga saliente e odores nada higiênicos. Inventor de várias pragas que assolam o mundo há muito tempo, o homem conseguiu criar pelo menos uma coisa bacana (que, por tabela creio eu também ser invenção de Belzebu): o futebol.

Assim começa este espaço às terças-feiras, dedicado a nós, seres imperfeitos criados à semelhança de Deus quando Ele estava de saco cheio. Nós, os amantes das curvas, dentro e, principalmente, fora das quatro linhas.

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Nas brumas da memória – histórias de Alberto Helena Jr. (Parte 1)

A portaria do condomínio, em Ibiúna, deixava a cidade, uma das violentas do Estado, para o lado de fora. A rua de terra, que servia de via de acesso, até daria um ar campestre ao lugar, não fossem os vigias circulando em suas motocicletas, símbolos da razão primordial pela qual os condomínios existem.

Foi um desses atentos e prestativos servidores que impediu que eu e o palestrino nos perdêssemos no emaranhado de ruelas, nos conduzindo diligentemente para a Casa de Pedra.

Mais do que uma referência, Casa de Pedra é uma descrição. Todos os muros, colunas e paredes da casa são em pura rocha, conferindo à construção um ar de fortaleza medieval. Entrando pela sala, fica evidente a combinação de solidez e sofisticação: o piso e os móveis em madeira fazem uma combinação que consegue ser, ao mesmo tempo sóbria, elegante e aconchegante.

À direita da entrada, um quarto; à esquerda, a cozinha. Passa-se pela sala de jantar e pelo escritório antes de chegar na sala de estar, no centro da qual uma enorme TV domina o ambiente. Na mesma direção da TV, do outro lado da sala, um escritório improvisado, estrategicamente montado, permite observar ao mesmo tempo os melhores lances da rodada e a vista deslumbrante da sacada. Sentado ao computador, Alberto Helena Jr. interrompe seu trabalho para nos receber. Ele nos deixa à vontade enquanto finaliza sua coluna do dia seguinte.

Toda a arquitetura da casa conduz para a enorme sacada, da largura da sala, e a vista do vale circunvizinho. Ali pudemos observar que o terreno da casa, em declive, levava a um lago – inclusive com rampa para embarcações. Antes de chegar ao lago, cerca de 80 metros abaixo, passa-se pela piscina e churrasqueira.

Tão logo finalizou a primeira parte da coluna que seria publicada no domingo, Alberto Helena veio se sentar conosco na sacada. “É difícil me tirar daqui, viu?”, disse, entre uma tragada no cigarro e um gole no uísque, aos que perguntavam se ele fora ao último show do Paulinho da Viola. Futebol, então, ele só vai às Copas do Mundo. “E olha lá. No Japão eu não fui, é muito longe”.

No bate-papo, em meio à sugestiva fumaça dos cigarros, Helena foi buscar nas brumas da memória muitas histórias, desde o seu início profissional na música, passando pela organização dos primeiros festivais até a transição para o trabalho com o futebol. Do futebol, contou alguns bastidores saborosos, como os episódios que levaram à indicação de Telê Santana para o cargo da seleção e como o técnico disciplinador aceitou trabalhar com Sócrates. Uma oportunidade única de compartilhar as memórias do colunista que hoje faz, disparado, o melhor texto sobre futebol da mídia brasileira.

Confiram, abaixo, algumas das histórias contadas por Alberto Helena. Para o texto não ficar muito grande e impossível de ser lido na web, vou deixar algumas das histórias para a próxima semana.

Telê na seleção

1979: o Brasil vivia a fase de transição para a democracia. A abertura contagiou até o esporte. Até então, todas as modalidades estavam subordinadas à CBD (Confederação Brasileira de Desportos). O governo, então, decidiu descentralizar e criou organizações próprias para cada uma das diferentes atividades esportivas. Nessa onda, foi instituída a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), que teve como primeiro presidente, já em 1980, o empresário e cartola do América carioca, Giulite Coutinho.

A primeira decisão do dirigente foi escolher o novo técnico da seleção, pois não se permitiria mais acumular o cargo de técnico da seleção e de clubes, e Cláudio Coutinho preferira ficar no Flamengo.

Na onda da transição, o novo presidente formou um “colégio eleitoral” com os principais jornalistas esportivos do país – entre eles, Alberto Helena.

O consenso acabou sendo definido por meritocracia: chegou-se à conclusão de que seria preciso um técnico que já tivesse conseguido se sagrar campeão em centros importantes. Telê Santana, que já havia sido campeão carioca com o Fluminense, Brasileiro com o Atlético Mineiro e gaúcho com o Grêmio vivia então um bom momento no Palmeiras, formando uma equipe competitiva sem grandes estrelas. Aquele Palestra que aplicou 4 a 1 no Flamengo de Zico em pleno Maracanã foi decisivo para Telê chegar à seleção.

Telê e o Doutor

Adepto do futebol-arte, Telê Santana era conhecido por ser linha dura com os jogadores. Por onde passou, cuidava da disciplina, criou cartilha e ficou conhecido por não permitir que os jogadores fizessem sexo na véspera dos jogos. Era por isso que Telê fazia questão de ficar plantado na porta do hotel da concentração até que tivesse certeza de que todos estavam dormindo como anjos.

Sócrates era a antítese de tudo aquilo que Telê esperava de um jogador. Não gostava de treinar e muito menos de regras, bebia, fumava, era contestador. Não era de se admirar que o técnico resistisse a convocar o ídolo do Corinthians. “Sempre que eu comentava com o Telê ele respondia: ‘lá vem você com essa história’. Na época, eu era o único a defender a convocação dele”.

Defensor do futebol do craque, Helena conversou com Sócrates sobre a possibilidade dele se enquadrar na seleção. “Ele me respondeu: ‘Eu tenho Brasileiro no nome. Faria qualquer coisa para jogar pela seleção’. E eu contei isso para o Telê”.

Telê convocou então Sócrates, e o testou. Escalou de centro-avante, lateral direito, ponta, sempre fora de posição. E o Magrão se dedicava ao máximo, tanto nos coletivos quanto nos treinos físicos, puxando a fila nas corridas. Assim ganhou a chance de ser testado na sua real posição: comeu a bola. “Aí o Telê me chamou e disse: o Sócrates vai ser meu capitão”.

Rogério Ceni

Uma notícia de interesse para tricolores: Alberto Helena Jr. foi contratado para escrever um livro sobre o arqueiro do São Paulo. Amado por sua torcida, odiado por todas os outras, foi a chance de estabelecer uma breve polêmica.

O palestrino colocou que entende que o goleiro é supervalorizado, talvez por ser articulado e educado, pois ao mesmo tempo em que se destaca jogando com os pés, sua atuação embaixo das traves muitas vezes deixa a desejar (opinião que compartilho, diga-se). Lembrou o recorrente defeito do jogador se ajoelhar diante dos adversários, tal qual arqueiro de salão, e como isso o deixa vendido diante de um atacante mais habilidoso.

Para nosso desapontamento, Helena discordou. Disse considerar Rogério um ótimo goleiro, talvez não tão bom quanto Marcos e Dida, mas ainda assim muito acima da média.

Eu acrescentei que, além das limitações técnicas, via no goleiro uma liderança muitas vezes negativa, pois em algumas competições que o São Paulo foi eliminado com jogadores expulsos, ele, em vez de tentar acalmar os companheiros, era um dos primeiros a partir para cima do juiz, desequilibrado.

Helena minimizou, dizendo que ele fazia o papel que precisava ser feito por alguém. Mas ponderou que, para seu livro, enquanto personagem, a constância e equilíbrio na carreira tornam Rogério menos interessante do que muitos outros, como Romário e Maradona.

Futebol & Violência

Helena considera o futebol uma teatralização da guerra (para desgosto do palestrino, que considera tais ilações devaneios de intelectuais), um ritual simbólico que replica a batalha entre dois exércitos.

“A partir do momento que esse teatro passa a gerar uma violência real, ele deixa de fazer sentido”, diz. Por isso Helena não admite, de forma nenhuma, que a violência fora de campo tenha se integrado ao esporte. Vê isso como um reflexo dos problemas sociais do País.

Argumentei que a violência das torcidas não é um fenômeno exclusivamente brasileiro, podendo ser vista na Argentina, na Inglaterra, na Alemanha, etc. Helena sustenta que também nesses países o crescimento da violência de hooligans, ultras e afins está intimamente conectado aos problemas econômico-sociais. Como exemplo, lembrou o episódio protagonizado pela torcida do Liverpool, na Copa dos Campeões de 1985, quando 39 torcedores morreram. “Na ocasião”, lembra, “o porto de Liverpool passava por grave crise, e milhares haviam ficado desempregados. O futebol servia como válvula de escape para a frustração”.

Mas Helena não é determinista na análise. Ao mesmo tempo em que faz essa análise mais materialista (no sentido marxista), ele não se furta a reconhecer outro elemento fundamental na violência das torcidas: o fanatismo. “E não é só no futebol. O fanatismo ainda hoje é um dos grandes perigos que a humanidade enfrenta”, acrescenta.

Fanatismo & Futebol

O fanatismo, aliás, era um dos grandes temores do seu pai em relação ao futebol. “Ele dizia que isso destruía as pessoas, que elas não pensavam em nada além do clube. Por isso ele queria me afastar do futebol de todo jeito”, lembra.

Conseguiu parte da tarefa: são-paulino assumido, Helena está longe de ser fanático. “Comecei gostando do São Paulo, mas sempre gostei de assistir futebol, independentemente de quem estivesse jogando. Meu pai conseguiu me afastar do fanatismo, mas não do futebol”, brinca.

domingo, 8 de abril de 2007

Começa agora o único blog que é politicamente incorreto até no nome

Olá a todos.

Neste primeiro post do Arranca-Toco minha missão é explicar qual é nossa “linha editorial”, e o que os leitores podem esperar de nossos cinco colunistas. Bem, não há tarefa mais ingrata: sinceramente, eu não tenho a mínima noção do que sairá da cabeça desses dementes. É sério.

Na verdade, a idéia básica está estampada aí em cima, no cabeçalho (“uma visão politicamente incorreta do futebol”); a partir dela, o que queremos é produzir um blog que saia do lugar-comum em que estão quase todos os demais blogs sobre futebol. Você quer encontrar comentários sérios e balanceados sobre os principais jogos e lances da rodada? Então vá ler o blog do sr. Juca Kfouri. Aqui, você vai encontrar opiniões tresloucadas, informações inesperadas, ataques a figuras públicas (que os mereçam, óbvio) e entrevistas que com certeza você não vai ler em outro lugar (ou vai, quando começarem a copiar a gente).

Para botar um pouco de ordem nesta joça, estabelecemos um cronograma básico para que os colunistas escrevam, de acordo com os dias da semana. Claro, todos podem escrever quando der na telha, mas obrigatoriamente um post será publicado por dia, obedecendo a agenda a seguir (os perfis de cada um você encontra na coluna à direita):

Segunda – Caiçara
Terça - Don
Quarta - Palestrino
Quinta – Ezequiel
Sexta – Rodrigol

É isso aí, cambada. Só posso dizer uma coisa: espero que vocês – e nós, principalmente - se divirtam. No mais, gostaríamos de tornar público nosso agradecimento ao designer Flávio Carvalho, que tirou do nada esse layout cool do blog – Flávio, meu caro, chorei quando vi esse capotão pela primeira vez. Você merece toda nossa gratidão.

Até sexta, então.