sexta-feira, 11 de maio de 2007

A Semana: o que valeu a pena e o que foi uma bosta

O que valeu a pena

A expulsão do meia Marcelinho, da Ponte Preta, no jogo contra o Gama pela primeira rodada da Série B - mandou o bandeira ir tomar naquele lugar e também se f*, e depois de expulso literalmente peitou o pobre auxiliar (deve pegar um gancho enorme). A eliminação do São Paulo da Libertadores, time que até três semanas atrás tinha a torcida mais orgulhosa, convencida e mala-sem-alça do país. O início da Série B, que é uma companheira fiel dos viciados em futebol, com seus jogos às segundas e sextas-feiras. O título paulista do Santos, que reafirma Wanderlei (lê-se "Uânderlei") Luxemburgo como um dos melhores técnicos do País.

O que foi uma bosta

O anúncio do possível time do Corinthians para a estréia no Brasileiro, COM (eu disse "com") os reforços: Marcelo, Betão, Zelão e Fábio Ferreira; Edson, Marcelo Mattos, Magrão, Wiliam e Marcelo Oliveira; Everton Leandro e Finazzi (isso foi MESMO uma bosta). A falta de sensibilidade do programa Linha de Passe, exibido às segundas-feiras na ESPN Brasil, que pela segunda semana seguida ignorou o resultadoda enquete sobre o gol mais bonito, que havia sido manipulada novamente pelo Kibe Loco. O título paulista do Santos, que reafirma Wanderlei (lê-se "Uânderlei") Luxemburgo como um dos melhores técnicos do País.

Da série "Em boca fechada não entra mosquito"

De João Paulo de Jesus Lopes, assessor da presidência do São Paulo, antes do jogo de quarta-feira, a respeito do meia Tcheco, do Grêmio:

- Nós até agradecemos que ele não veio, porque não era um atleta à altura do São Paulo.

Era a resposta à acusação de Theco de que a diretoria são-paulina havia inventado uma assinatura sua num pré-contrato. No jogo, o meia marcou o primeiro gol do Grêmio, que despachou por 2X0 o eliminado São Paulo para a capital paulista.

Jesus deveria seguir o exemplo de seu xará mais famoso e guiar suas atitudes com menos alfinetadas e mais amor ao próximo. Talvez passasse por menos vexames.

Moby Dick (ou Como acabar com Melville em dois capítulos) – parte 2

Depois de acertar dois arpões em Moby Dick e deixá-la escapar por pouco, a tripulação do S. Caetano prepara-se para finalmente matar a temível baleia branca. Mas as coisas não saem como o esperado.....

(Não viu a parte 1? Clique aqui)

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O dia levantou-se fresco e agradável, mas a baleia não estava ainda à vista. Seguindo as ordens do capitão, seguimos sem mudança de rumo. Horas mais tarde, Dorival voltou a indagar:

- Que estão vendo aí?
- Nada, comandante.
- Nada! E já são quase quatro horas!

Então, a uns cinqüenta metros de distância, na boca do túnel do vestiário, Dorival avistou o jorro e imediatamente gritou ao mesmo tempo que o resto do time.

- Pronto! Vou-te enfrentar pela segunda vez, Moby Dick!

Dorival tomou seu lugar no banco de reservas, ao lado dos que, como eu, ali ficariam. Havia em seu rosto uma sombra de vacilação. De repente, a luta começa.

Desvairada pelos ferros que lhe roíam o corpo, Moby Dick estava possuída pela fúria de mil demônios. Depois de alguns saltos impressionantes, investiu a cabeça contra os botes, destroçando-os com a cauda, atirando ao ar nossos companheiros e novamente sumindo. Enquanto alguns procuravam restabelecer-se, Moby Dick voltou ao centro da arena e, dando uma volta inesperada, a baleia pôs-se a nadar com toda a rapidez, produzindo uma tensão de tal maneira violenta que o time não agüentou.

Aproximando-se de nós, arremessou-se contra nossa meta, com um pavoroso ruído de mandíbulas.

- A baleia! – gritaram os zagueiros assustados.
- À defesa! À defesa! Depressa! Salvemos o título!

Mas, ao se aproximarem outra vez de Moby Dick, ela destroçou várias jogadas do time com uma de suas barbatanas, impedindo que Dorival a fizesse mudar de direção. De nosso lado, olhávamos fascinados e inertes a arremetida de Moby Dick. Um dos companheiros envolveu seu corpo numa bandeira azul e cerrou os olhos espantados. Outros dois notaram ao mesmo tempo o ataque do animal.

Antes que alguém fizesse qualquer coisa, já o sólido aríete branco do cachalote se chocara contra nós, derrubando todos os homens. O capitão Dorival, indefeso, foi sugado e não mais o vimos. Destroçado, esburacado, o time naufragou.

O drama terminara. Estava escrito pelo destino de todos nós que apenas um haveria de escapar, a fim de dar a notícia. Por que fui eu o escolhido? Não sei. Mas todos os dias dirijo-me à praia e olho longamente para o mar, na esperança de avistar entre as ondas o dorso branco de Moby Dick. Um dia, talvez, eu encontre, de partida, um comandante tão intrépido quanto Dorival, que me deixe entrar em seu time e me dê a oportunidade de vingar meus amigos. É nisso que secretamente penso, durante a minha silenciosa e cada vez mais longa contemplação do mar.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

De tudo um pouco

“Também, quanto a mim, não pouparei nem me compadecerei; sobre a cabeça deles farei recair o seu caminho. “ (Ezequiel 9: 10)

Já na segunda-feira avisava meu amigo são-paulino Marcelo Domingues, voluntarioso companheiro das teclas, que sua única alegria nesta semana seria seu casamento no sábado. Ontem, o Grêmio tratou de me dar razão.
Por um bom tempo espero não ver aquela ridícula camisa número um do Rogério Ceni que o Marcelo trazia na bolsa para levar ao Morumbi. Toda colorida, parecia desenhada pelo Romero Brito, aquele artista brasileiro pop radicado nos EUA. Só faltava estampar o Mickey no peito.
Coisas do Rogério Ceni, que ontem me pareceu ter engolido um franguinho no segundo gol. Ainda que sem visão do instante do chute ou traído por um desvio da bola, seu proverbial reflexo foi pras cucuias e ele ficou parado vendo a redonda entrar sem esboçar uma pontezinha sequer. Não suja a camisa, segundo o próprio Marcelo. Tem um visitante anônimo aqui do blog que costuma usar um neologismo bem interessante para se referir ao Ceni.

O torcedor do São Paulo começa a descer daquela zona de gozo inefável das vitórias seguidas, que paira invisível para os mortais sofredores como nós.

Mais uma traição

Um são-paulino de nomeada autografava feliz, ontem, em São Paulo, seu terceiro livro, no qual narra as traições de que sua família foi vítima desde a Sicilia até aqui, no Brasil. Mal sabia que até o fim da noite tomaria outra punhalada – do seu time.

Estréia?

O Corinthians entra em campo no domingo, na estréia do Brasileirão, com William como único jogador de criação. Talvez, com Rosinei. As novidades representadas pelas contratações recentes devem empolgar as pulgas da minha cadela. Vejam, eu disse o Corinthians na estréia do Campeonato Brasileiro de 2007. Deve ser por isso que o Carpegiani está ensaiando até cobrança de lateral, o que deve ser a arma mais letal do time. O Corinthians deve criar uma sede no Second Life. Talvez lá funcione.

Não pouparei

Hoje, a passagem bíblica de Ezequiel citada acima é verdadeira. E deve ser endereçada a Alberto Dualib.

Cesta

Aliás, a idéia do Palmeiras de criar uma cesta de jogadores, como informou ontem o Palestrino, poderia ser imitada pelo Corinthians. Só que deveria ser uma cesta de lixo, para onde poderiam ir os dirigentes também.

A força do Eixo

Galvão Bueno narrou o título fluminense do seu Flamengo e Cleber Machado, o título do seu Santos. Que fofos.

Já pensou?

Não por nada, mas seria legal ver um dia um time do Luxa tomar um gol durante aquele período em que ele deixa o campo em direção aos vestiários supondo sua equipe campeã. Aquela história de deixar os jogadores comemorarem. No domingo, ele saiu com tempo de sobra para o Azulão marcar um tento.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Cesta de jogadores

A partir das próximas semanas, alguns palmeirenses formarão uma carteira de investimentos com jogadores do time, que será chamada Palestra Investimentos.

A iniciativa inédita no País está sendo liderada por Luiz Gonzaga Belluzo. A idéia é constituir uma sociedade em cotas de participação para adquirir direitos econômicos de uma cesta de jogadores do time profissional. Na prática, os investidores poderão lucrar com a futura venda de algumas das promessas do time, comprando direitos pelo valor histórico dos atletas.

O objetivo da diretoria é atrair novas receitas para administrar sua dívida – em 2006, algo em torno de R$ 38 milhões. A estimativa é que sejam arrecadados cerca de R$ 32 milhões em participações em 15 jogadores. Devem fazer parte da cesta de jogadores o goleiro Diego Cavalieri, os meias William e Valdívia, o zagueiro David e os volantes Wendel e Francis, entre outros.

Avalio que a iniciativa é positiva. A confiança ainda é maior por causa da liderança do Belluzo, economista renomado e a cabeça mais brilhante da diretoria. Ele também é um homem sério, respeitado, e empresta essas qualidades à sua idéia, que nasce com boas perspectivas de êxito.

Vale reforçar que o Boca Juniors teve uma experiência semelhante no final da década de 90. No período, o time ganhou três Taças Libertadores e os cotistas receberam um retorno de 90% sobre o investimento aplicado. Ou seja, todos ganharam. O clube, que pôde se reforçar e conquistou títulos, e os torcedores, que viram seu dinheiro render.

Espero que a experiência do Palmeiras seja ainda melhor. Enxergo apenas um perigo: o clube está quebrado e o dinheiro que deve entrar será destinado ao pagamento das dívidas inicialmente. Está certo. O problema é que assim o time não será reforçado e, muito provavelmente, os títulos não serão conquistados. Como ficará a cobrança do investidor nesse cenário?

Há também uma outra questão importante: os investidores não podem funcionar rigorosamente como acionistas de grandes empresas, que cobram resultados no curto prazo. Os jogadores devem ser valorizados e vendidos na hora certa.

Espero que a Palestra Investimentos funcione para sanear as finanças do clube – e que sirva também para que o time seja reforçado e possa voltar aos títulos.

terça-feira, 8 de maio de 2007

Entressafra

Um amigo boleiro disse uma vez que havia desistido do futebol. Era um momento de revolta com seu time, diretoria, técnico e jogadores. Dali pra frente, só prestaria atenção na segunda divisão do estadual de botão.

Um outro boleiro, dos mais corneteiros, pulou do futebol para o vôlei, aquele esporte de efeminados. Para não ser politicamente incorreto, ou melhor, para elevar os ânimos, um terceiro boleiro replicou que “esporte sem contato não é esporte!”. Essa prefiro até não comentar...

O lance é que, na verdade, nenhum deles deixou o bate bola de lado. Pelo menos na TV, onde correm menos riscos de lesões incuráveis para a já avançada idade.

Mas eis que chega o período da entressafra. Os estaduais chegaram a seu final. Alguns mais felizes do que outros. Mais sorte (ou não) para os que ainda torcem na Libertadores. A maioria dos times está naquela tal intertemporada, alguns nem sabem por quê. E nós, torcedores, caçamos um programa nas quarta-feiras à noite e nas tardes de domingo.

Falta pouco para o retorno do nosso ópio, angústias, alegrias e tristezas. A partir de 12 de maio e durante sete meses, o Brasil acompanhará a 37ª edição do Campeonato Brasileiro. Nem a realização do Pan, no Rio de Janeiro, irá parar a competição este ano.

E que vença o melhor, em campo, de preferência, sem tapetões, juízes vendidos e cartolas mal intencionados.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Grandes e pequenos

Nunca um time havia conseguido reverter uma desvantagem de dois gols na final do Paulista.

Na verdade, reviravoltas na final são menos comuns do que nossa imaginação acredita, mesmo em derrotas simples. Até este ano, apenas duas vezes na história dos mata-matas do Campeonato Paulista o time que perdera o primeiro jogo das finais conseguiu reverter no segundo. O Palmeiras, em 1993, aplicou 3 a 0 no Corinthians (e 1 a 0 na prorrogação) após perder o primeiro jogo por 1 a 0, no gol porco de Viola, e encerrou ali o mais longo jejum de sua história, 17 anos sem títulos. Em 1998, o São Paulo inscreveu Raí para o segundo jogo da final, e conseguiu reverter a derrota por 2 a 1 do primeiro jogo com um 3 a 1 sobre o Corinthians de Wanderley Luxemburgo.

Por isso, não havia argumento racional razoável para acreditar que o Santos poderia devolver os dois gols de diferença feitos pelo São Caetano no primeiro jogo. Afinal, o time do ABC tem na marcação e contra-ataque sua especialidade, e, a despeito da melhor qualidade técnica individual do elenco do alvinegro, nenhuma equipe tem hoje jogadores de uma nível tal que essa superioridade se imponha naturalmente.

De onde veio, então, a esperança que colocou mais de 55 mil santistas na platéia da busca pelo resultado improvável?

Certamente há um pouco de fé no comportamento do torcedor, entendendo-se a “fé” uma crença ilógica na ocorrência do improvável, como definiu o jornalista americano H.L. Mencken.

Mas para um cético e ateu, essa explicação de alucinação coletiva não é suficiente. Entendo que havia mais motivos, intangíveis que fossem, que justificassem a crença na virada que parecia difícil de se concretizar.

Aí entra a confiança do torcedor na capacidade do técnico, Luxemburgo, que havia ido muito mal nas partidas anteriores ao jogar com a vantagem, mas que sabe armar como poucos o time para atacar. Acima disso, aí entra a esperança no talento de Kleber, Cléber Santana, Pedrinho, Marcos Aurélio e, principalmente, Zé Roberto, a grande estrela alvinegra. Mas, como já disse, isso ainda parecia pouco para superar um time que faz do trabalho de anular o adversário sua maior especialidade.

Onde, afinal, o santista foi buscar a confiança na virada?

Acho que nem no plano místico, nem no técnico-tático. Foi muito mais a crença na instituição, na camisa do clube. Afinal, também é verdade que só uma vez um time pequeno venceu um grande na finalíssima, em 1986, quando a Internacional de Limeira bateu o Palmeiras no Morumbi por 2 a 1, e nunca um finalista do Paulistão que disputa a série A do Brasileiro perdeu uma final para um time que disputasse outra série.

O Santos tinha, enfim, a camisa, a tradição. Tem aquilo que define os grandes: uma história com conquistas em diferentes períodos, que dão à sua camisa – e à de todos os grandes – um arquétipo vencedor. É o tal peso que tanto se fala.

O São Caetano, que fora brilhante na segunda semi-final contra o São Paulo e aniquilara o Santos taticamente no primeiro jogo, resolvendo a parada nos contra-ataques, entrou em campo como pequeno. Recuou demais, trouxe a marcação para seu próprio campo e chamou o Santos para cima.

Que bobagem. O Santos, armado para isso com Pedrinho no meio e Maldonado na lateral direita, aceitou o convite e se debruçou sobre o campo do São Caetano levando o Morumbi junto. Impôs uma pressão terrível até o primeiro gol, não dando qualquer chance de contra-ataque ao adversário. Depois do gol, talvez até por um relaxamento natural, a pressão arrefeceu, mas Jonas, Rodrigo Souto e Zé Roberto ainda estiveram perto de marcar o segundo antes do intervalo.

No segundo tempo, Dorival Junior colocou o volante Galiardo no lugar de Canindé, teoricamente deixando o time ainda mais defensivo. Na prática, ele colou em Zé Roberto e o São Caetano finalmente entrou em campo. Adiantou a marcação, atrapalhando a saída de jogo santista, e começou a tentar tocar a bola na intermediária ofensiva. Seguia, enfim, a receita de quem quer segurar o resultado com a cabeça.

O Santos, extenuado, não era mais o mesmo time do primeiro tempo. O jogo ficou nervoso, com excesso de faltas e erros de passe. Sem muitas opções no banco, Luxemburgo tirou Jonas, que errara duas bolas fáceis em seguida, e colocou o menino Moraes, irmão de Bruno Moraes, o que não estourou da geração Diego & Robinho, ambos filhos de Aloísio Guerreiro. Uma aposta temerária.

Bem no começo do segundo tempo, com o passar dos minutos o São Caetano foi recuando. A ala esquerda se abriu, e Kleber começou a aparecer, errando muitos cruzamentos. Quando acertou, Zé Roberto, impedido, quase marcou, e Cléber Santana, também impedido, balançou as redes, num gol bem anulado. Aos 30, Luxa queimou os últimos cartuchos, colocando Tabata no lugar do exausto Pedrinho e Carlinhos no lugar de Cléber Santana. “Que bobagem”, protestei eu. “O Cléber Santana sempre pode resolver numa bola parada e o Kleber não está acertando os cruzamentos”.

Dorival respondeu, colocando Ademir Sopa no lugar de Glaydson e o veloz Marcelinho no lugar de Luiz Henrique. O São Caetano tornava-se cada vez mais perigoso nos contra-ataques, pois havia crescentemente mais espaço no meio da zaga santista. No lance mais perigoso, Triguinho entrou e Maldonado entrou de carrinho. Silêncio. No estádio, ficara a sensação de pênalti, que a TV desmentiria depois: o jogador santista recolhe a perna e Triguinho se atira. Merecia, aliás, um cartão, que seria o vermelho.

O jogo já ganhava contornos de drama para a torcida santista quando Kleber recebeu a bola na esquerda, marcado de perto por Ademir Sopa. Sem espaço, foi até a bandeirinha de escanteio e descolou um cruzamento improvável, na risca da pequena área, para o pequenino Moraes se atirar, livre, e matar o jogo.

O resto foi desespero do São Caetano, que deu ao Santos mais três ou quatro chances claras de ampliar, e espera pelo apito final.

De concreto mesmo, a estrela de um time que achou no lateral, que fazia péssima partida, e num menino de 20 anos, aposta temerária de quem não tinha banco, o sofrido gol do título. Coisas que só acontecem com time grande. Ou, olhando do ponto de vista da torcida arco-íris que apoiou o São Caetano, coisas que só acontecem com time pequeno.