sexta-feira, 11 de maio de 2007

Moby Dick (ou Como acabar com Melville em dois capítulos) – parte 2

Depois de acertar dois arpões em Moby Dick e deixá-la escapar por pouco, a tripulação do S. Caetano prepara-se para finalmente matar a temível baleia branca. Mas as coisas não saem como o esperado.....

(Não viu a parte 1? Clique aqui)

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O dia levantou-se fresco e agradável, mas a baleia não estava ainda à vista. Seguindo as ordens do capitão, seguimos sem mudança de rumo. Horas mais tarde, Dorival voltou a indagar:

- Que estão vendo aí?
- Nada, comandante.
- Nada! E já são quase quatro horas!

Então, a uns cinqüenta metros de distância, na boca do túnel do vestiário, Dorival avistou o jorro e imediatamente gritou ao mesmo tempo que o resto do time.

- Pronto! Vou-te enfrentar pela segunda vez, Moby Dick!

Dorival tomou seu lugar no banco de reservas, ao lado dos que, como eu, ali ficariam. Havia em seu rosto uma sombra de vacilação. De repente, a luta começa.

Desvairada pelos ferros que lhe roíam o corpo, Moby Dick estava possuída pela fúria de mil demônios. Depois de alguns saltos impressionantes, investiu a cabeça contra os botes, destroçando-os com a cauda, atirando ao ar nossos companheiros e novamente sumindo. Enquanto alguns procuravam restabelecer-se, Moby Dick voltou ao centro da arena e, dando uma volta inesperada, a baleia pôs-se a nadar com toda a rapidez, produzindo uma tensão de tal maneira violenta que o time não agüentou.

Aproximando-se de nós, arremessou-se contra nossa meta, com um pavoroso ruído de mandíbulas.

- A baleia! – gritaram os zagueiros assustados.
- À defesa! À defesa! Depressa! Salvemos o título!

Mas, ao se aproximarem outra vez de Moby Dick, ela destroçou várias jogadas do time com uma de suas barbatanas, impedindo que Dorival a fizesse mudar de direção. De nosso lado, olhávamos fascinados e inertes a arremetida de Moby Dick. Um dos companheiros envolveu seu corpo numa bandeira azul e cerrou os olhos espantados. Outros dois notaram ao mesmo tempo o ataque do animal.

Antes que alguém fizesse qualquer coisa, já o sólido aríete branco do cachalote se chocara contra nós, derrubando todos os homens. O capitão Dorival, indefeso, foi sugado e não mais o vimos. Destroçado, esburacado, o time naufragou.

O drama terminara. Estava escrito pelo destino de todos nós que apenas um haveria de escapar, a fim de dar a notícia. Por que fui eu o escolhido? Não sei. Mas todos os dias dirijo-me à praia e olho longamente para o mar, na esperança de avistar entre as ondas o dorso branco de Moby Dick. Um dia, talvez, eu encontre, de partida, um comandante tão intrépido quanto Dorival, que me deixe entrar em seu time e me dê a oportunidade de vingar meus amigos. É nisso que secretamente penso, durante a minha silenciosa e cada vez mais longa contemplação do mar.

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