domingo, 22 de abril de 2007

Campeonato Paulistano de Futebol

Entre as inúmeras máximas e noções de senso comum que povoam o futebol, uma é a de que o
torcedor santista tem mania de perseguição.

Eu, como santista, sou obrigado a defender a classe: isso é calúnia, não sofremos de nenhuma espécie de neurose ou psicose coletiva. O que, acontece, efetivamente - como em todas as lendas que povoam o imaginário, nas quais há sempre um fundo de verdade - é que nunca houve na história do futebol mundial um time mais roubado e prejudicado por arbitragens, federação, armações de resultado, mudanças de regulamento com o campeonato em andamento do que o Santos Futebol Clube. Como defensores dessa instituição, alertar a imprensa e a opinião pública para este fato é quase um serviço, um dever cívico.

Exemplos não faltam - e vão muito além de Márcio Rezende de Freitas, que deu o título ao Botafogo em 1995, e da dúzia de gols legítimos marcados por Deivid em 2004 e anulados equivocadamente. Essa, digamos, falta de boa vontade da arbitragem e dos organizadores tem uma origem histórica.

Como quase todos os campeonatos regionais, o Campeonato Paulista começou, no início do século passado, como um torneio amador de âmbito municipal, um campeonato paulistano, disputado por equipes como Paulistano, Germânia, São Paulo Athletic e Ypiranga. Em Santos, disputava-se outra competição, também só com times da cidade - a Liga Santista de Futebol. E o mesmo se dava por todo o interior.

A organização de um Campeonato Paulista começou, timidamente, nos anos 10, quando o Santos e outros clubes de fora da capital passaram a ter direito de ir a São Paulo enfrentar os times da cidade. Porém, sempre foram olhados e tratados como forasteiros - em 1913, o Santos
enfrentou seis horas de bonde na serra para enfrentar o Corinthians no Parque S.Jorge (Santos 6 x 3), mas nem passava pela cabeça dos organizadores fazer o time da capital descer a serra para jogar no campo do Macuco - não havia Vila Belmiro ainda.

Os clubes de fora da capital sempre foram preteridos. Não há novidade nisso.

Para a fase semifinal do Campeonato Paulista, a Federação decidiu que os jogos seriam todos realizados na capital. Na prática, decidiu ignorar o que previa o artigo 3º do regulamento da competição, usando como prerrogativa o "regulamento geral das competições", que dá a FPF o direito de decidir sobre o mando de uma partida sempre que lhe aprouver.

Se é para agir assim, melhor seria copiar abertamente o regulamento da Federação carioca ou da mineira, que já determinam, sem meias palavras, o mando das finais para as capitais, pouco importando que o torcedor de Ipatinga, Juiz de Fora, Governador Valadares,
Cabo Frio, Volta Redonda, etc. tenha acompanhado todas as rodadas anteriores. Jogo decisivo é privilégio de quem mora nas capitais. Deviam, mesmo, cogitar chamar logo de Campeonato Metropolitano.

Ao escolher a cidade de São Paulo como local para todos os jogos semifinais, a FPF agiu parcialmente, pois deu ao São Paulo FC um direito que ele não conquistou no campo: o de disputar todos os jogos decisivos em sua cidade-sede. O regulamento previa jogos semifinais em ida e volta, com o time de melhor campanha tendo direito de sediar a segunda partida - e não as duas. Decisão que, no mínimo, feriu a igualdade de condições entre os participantes, pré-requisito de qualquer competição esportiva séria.

A decisão se torna ainda mais arbitrária quando analisamos que, dos quatro finalistas, só o São Paulo FC teve direito de usar sua arena esportiva nos jogos finais. Qualquer um que assista futebol regularmente sabe o quanto pesa um clube poder jogar em seu estádio e o
adversário ter de usar um "campo neutro". Numa competição de estilo mata-mata, esse tipo de vantagem normalmente é decisivo.

Assim, mais uma vez, as decisões da Federação favoreceram o clube da capital, em detrimento de Santos, São Caetano e Bragantino.

Mas, felizmente, o São Caetano superou tudo, e aplicou 4 a 1 no São Paulo.

Isso, porém, não suspende a discussão. Pelo contrário: agora é o Santos FC quem se beneficia da decisão estapafúrdia da FPF de mandar os dois jogos na capital. Ainda que não seja sua cidade-sede nem o Morumbi seja a praça esportiva em que está habituado a jogar, o Santos leva vantagem com os jogos na capital, uma vez que sua torcida na cidade é infinitamente maior do que a do Azulão.

É uma vantagem menor do que a dada ao São Paulo, mas igualmente ilegítima. Por isso, como antes, continuarei pedindo Justiça: que o primeiro jogo seja no Anacleto Campanela, e a finalíssima, na Vila Belmiro, direito conquistado pelo Santos dentro do campo por ter a melhor campanha.

Nosso choro é apenas para que se cumpra o regulamento. Nada mais.

5 comentários:

Anônimo disse...

Talvez o Santos deva participar apenas da Liga Santista novamente... assim is juízes talvez sejam imparciais.

Anônimo disse...

Ah... essa eu ját inha ouvido antes.
Santista é mesmo muito chorão, choram até hj de saudade do Pelé.

Rodrigol disse...

E além de definir que o jogo será no estádio Tal, a Federação Paulista não arca com os custos de aluguel; ou seja, ela exige que o jogo seja no Morumbi e obriga Santos, São caetano e Bragantino a soltar uma grana para o São Paulo.

O São Paulo é dono da Federação?

João de Barro disse...

Não posso acreditar que Marcio de Meo prefere ver a Vila Belmiro lotada, em seus 20.100 lugares (informação tirada do Google em 1,5 segundo, diga-se de passagem), do que ver o Morumbi lotado contra o São Caetano, com 60 mil santistas gritando o nome do time. Acho que mesmo que o direito seja legítimo, é muito mais legal ver a "massa".

Caiçara disse...

Se é para ser chato, a capacidade liberada hoje é de 20.120 torcedores, embora eu tenha assistido jogos com 25.000 pessoas (Santos 2 x 1 Sport, em 1998) e clássicos com mais de 23 mil pessoas (Santos 2 x 2 Palmeiras, em 1998; Santos 2 x 3 São Paulo, em 1994).

Eu prefiro ver o time jogando na Vila, com o adversário tendo de enfrentar a pressão de 20 mil na orelha, do que no Morumbi, com uma massa de 60 mil a 1,5 km do campo.