segunda-feira, 30 de abril de 2007

O azulão, o pardal, a pomba-gira e a zebra

Técnico não ganha jogo, mas pode ser decisivo para perder.

A máxima é antiga, mas andou esquecida de uns anos para cá. Talvez pela ausência de grandes talentos atuando no futebol brasileiro, os técnicos vêm ocupando um espaço na mídia que não lhes pertence, excessivo para o papel que realmente têm, roubando tempo na TV e centímetros nos jornais dos verdadeiros protagonistas do embate.

O perigo é quando os técnicos começam realmente a acreditar no poder de decisão que os jornalistas à caça de ídolos lhes imputam. Afinal, uma competência essencial do cargo é o poder de discernimento, a sensatez para identificar pontos fortes e vulnerabilidades da equipe, o senso crítico para avaliar o desempenho de atletas e traçar a estratégia mais adequada. A soberba e a onipotência, que são defeitos para qualquer pessoa, são características nefastas para os técnicos, pois atacam a capacidade que está no cerne de sua atividade.

Ontem, no Morumbi, o Azulão venceu o Santos por 2 a 0 e colocou mais de uma asa na taça. E o que fez o time do ABC de especial, de diferente, para derrotar o time de melhor aproveitamento do futebol brasileiro e sul-americano em 2007? Absolutamente nada. O Azulão foi o que dele se esperava: muita marcação, muita disciplina tática, veloz nos contra-ataques e com algum talento no meio-campo.

O placar se explica melhor se olharmos para o outro lado do gramado: o Santos é que não foi o mesmo da fase de classificação, quando teve aproveitamento de quase 90% dos pontos e fez o melhor ataque, aplicando 3 a 0 no próprio Azulão na Vila Belmiro.

Wanderley Luxemburgo, que há mais de uma década vem sendo considerado pela imprensa o melhor técnico do País, vive seus dias de professor Pardal. Como já havia feito inexplicavelmente na semifinal contra o Bragantino, ele desarmou o time que funcionara tão bem ao longo de todo o campeonato no 4-4-2, com várias formações, e resolveu introduzir um inovador 4-5-1. Ontem, Fábio Costa; Denis, Adaílton, Antônio Carlos e Kleber; Rodrigo Souto, Maldonado, Cléber Santana, Zé Roberto e Rodrigo Tabata; Marcos Aurélio.

A intenção é evidente: congestionar o meio-campo com vários jogadores e, ao mesmo tempo, contar com jogadores talentosos que possam garantir maior posse de bola à equipe, a fim de não sofrer pressão.

Na teoria, tudo é lindo. Mas, no campo, a estratégia do “pofexor” não foi por água abaixo por muito pouco contra o Braga. Aquela bola na trave aos 43 do segundo tempo do segundo jogo teve ares de tragédia anunciada.

Demorou uma semana, mas a tragédia veio. E rápido: aos 9 minutos, chutão da defesa do Azulão virou lançamento. Adaílton e Antônio Carlos bobearam e Luís Henrique entrou livre para abrir o placar.

Aí entra a soberba: se tivesse humildade, Luxemburgo reconheceria que a estratégia pré-jogo fora para o espaço nesse lance, e já trataria de recolocar o time no esquema padrão – ou seja, tiraria um meio-campista para colocar um atacante.

Qual o quê. O Santos se arrastava em campo, o tempo se esvaía e Luxa encontrava tempo para ralhar com a torcida, que resolveu pegar no pé do inseguro Dênis. Assim o primeiro tempo seguia, num tédio só, com o São Caetano fechadinho e o Santos trocando passes laterais sem assustar. Quando teve a chance, Zé Roberto falhou, mostrando que, realmente, é apenas um bom jogador.

Para o segundo tempo, Luxa fez o que deveria ter feito desde a semifinal, colocando Jonas e rearrumando o time no 4-4-2. Mesmo assim, foi mal nas substituições de intervalo: tirou Tabata, que havia sido o melhor do primeiro tempo, deixando em campo o inútil Cléber Santana; tirou Dênis – e nisso foi bem – mas em seu lugar colocou o inócuo Pedrinho, o craque-placebo, deslocando Maldonado para a lateral. Rodrigo Souto ficou como cabeça-de-área e Cléber Santana como segundo volante.

Ou seja, ainda não foi dessa vez que o Santos conseguiu fazer o óbvio: jogar com o time que disputou a maior parte da fase de classificação como melhor time do estado.

Mesmo assim, o Santos melhorou muito no segundo tempo e só não empatou porque esbarrou na sua crônica falta de atacantes de qualidade. Para tentar aumentar o poder de fogo, Luxa ainda tentaria tirar Cléber Santana (que podia ter saído no intervalo) para colocar o garoto Moraes, mas nem deu tempo. Mal o moleque entrou, o São Caetano encaixou um contra-ataque, a bola espirrou e Fábio Costa, possuído pela pomba-gira que baixa nele a cada saída do gol, quase dividiu o atacante do São Caetano ao meio. Pênalti, gol: 2 a 0.

O Morumbi silenciou. Time e torcida atônitos, meio desnorteados pelo choque do segundo gol. O Santos ainda continuou atacando, desordenadamente, mas já era evidente que nada mais aconteceria.

Se no próximo domingo Luxa deixar o “pofexor” Pardal em casa e Fábio Costa tomar um chá de camomila antes do jogo, ainda há uma chance. Mas, com a vantagem construída ontem, se não der Azulão, será zebra.

Um comentário:

Eric disse...

Foi realmente estranho ver o melhor técnico do país cobrando -- com desmedida veemência -- vibaxão da toxida. Deu a impressão de que o estrategista estava desesperado.