quinta-feira, 17 de maio de 2007

As cambalhotas do Corinthians

“Os voluntariosos dão lá suas cambalhotas” – Ezequiel, I: 9, 10

Sai Magrão, entra Vampeta. Antes fosse mera alteração numa partida. A troca de volantes expõe as vísceras do que é a gestão do Corinthians hoje: sai um jogador por cujo empréstimo o time não pôde pagar – não tinha os US$ 300 mil da segunda parcela cobrada pelos japoneses do Yokohama Marinos – entra um jogador que veio grátis. Vampeta não assinou contrato, coisa do tipo “tô aqui pedindo pra jogar”, só vai receber salário. Ideal para o Corinthians, que disfarça a penúria com a surrada estratégia de tentar resgatar para a glória um vitorioso do passado recente. Deu errado com Rincón, Ricardinho e Marcelinho.

Enquanto esteve no Corinthians, Magrão me pareceu um digno voluntarioso, candidato ainda distante à estirpe de Ezequiel, mas candidato. Não comprometeu, fez gols e poderia ser ídolo definitivo no Corinthians não tivesse naufragado neste primeiro semestre junto com o time no merdel em que vive. As declarações, na sua despedida, de que é corintiano de família de corintianos mostram que poderia haver uma bela história nessa história, precocemente interrompida.

Já Vampeta é dono da história que deixou para trás, perdendo-a para passagens obscuras em outros times e para o peso, que sobra. Meu amigo Luizão, corintiano doente de tão calmo, mas um corintiano doente, já há uns dois meses me confidenciava a cervejas tantas sua vontade de ver o velho Vamp de volta ao Timão. A assombrosa premonição trazia seu desejo íntimo de ver aquelas velhas arrancadas fulminantes, as assistências feitas a régua, aquele manancial de belezas com que o filho ilustre de Nazaré das Farinhas nos presenteava. Temo que esse tempo não volte. Creio mesmo que seria possível vê-lo bebaço novamente, mas as cambalhotas corintianas no Planalto, essas acho que ele já não consegue mais. Se bem que tem outro corintiano lá dando cambalhotas com as coisas do povo, mas essa é outra história.

Mas vá lá, tudo pode acontecer com o Corinthians – bem entendido, dentro daquela relação íntima entre jogadores em campo e torcida nas arquibancadas e sofás, jamais nos escritórios dos que o dirigem. De repente o Vampeta resolve jogar tudo o que sabe. Vejam que depois dessa estréia no Brasileirão enxerguei naquele gol do Finazzi aquela fagulha que pode acender a fogueira do Timão. Foi aquele toque assim, meio de lado, já saindo, lance de oportunismo, Corinthians 1x0. Ou seja, meu pessimismo da semana passada já dá lugar a uma ainda represada vontade de achar que nós vamos ganhar essa porra esse ano.

São as cambalhotas que o Corinthians dá.

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