quinta-feira, 14 de junho de 2007

A lógica da paixão

“Os voluntariosos gozam sem relaxar.” – Ezequiel, I, 9-10

Com o perdão do lugar-comum, as paixões são fugazes. Elas fragmentam o que pode ser eterno, dilaceram o tempo, trincam as vidraças frágeis das construções mentais que se pretendiam cerradas e protegidas. Brindam-nos – se quisermos – com a apoteose do instante, com o veludo da carícia escorregadia, com a centrífuga vertiginosa do gozo. Gol!

Gol? Claro, gol é gozo, futebol é prazer, é paixão (este um alqueire-comum) e é pra falar de futebol que estamos aqui. Essa enganação aí em cima é pra dizer que, como o Don, falei das coisas do amor dois dias depois do Dia dos Namorados.

Serve também pra explicar que as coisas no futebol são de momento e a paixão que o envolve – nuclear, posto que praticada por milhões – ergue e destrói coisas belas, não respeitando boas ou más gestões. Se assim não fosse, aquele Real Madri de Luxa, Zidane, Figo e Robinho teria ganho alguma coisa. É um outro emaranhado de coisas que resultam no ápice do esporte. As paixões vêm para confundir.

Se São Paulo, Santos (Palmeiras não digo), Inter ou outro desses clubes ditos bem geridos tivessem no elenco os laterais Eduardo Ratinho, Edson e o recém-contratado Pedro e fossem pôr um deles à venda, certamente este seria o Edson e não haveria paixão, gritaria que mudasse isso. Zero à esquerda que joga pela direita, Edson mostra a todos aquilo que é uma obviedade solar: trata-se de uma genuína bosta. Mas o Corinthians põe o Eduardo Ratinho à venda. Pela lógica do momentâneo, da paixão, é possível que o mesmo ocorresse aos três adversários citados no início desse parágrafo, até porque eles parecem viver um espasmo de gestão Dualib. Mas no Corinthians a coisa é inquebrantável. Fazer o certo ali parece ser coisa oculta em alguma ciência ainda não descoberta. E vamos nós, os mais apaixonados dos torcedores, sofrendo sem fim.

Afinal, em qual outro time o presidente passa 41 dias (hoje) na Europa sem dar satisfação do que está fazendo? Qual outro time tem um interino por nome Nesi Cury que diz que o clube não está tão endividado, quando está devendo R$ 100 milhões?

Se manter ou vender o Eduardo Ratinho pode ser um detalhe, basta refletir sobre o quadro acima e observar o time que está disputando o Nacional para saber que negociar este que é um lateral mediano passa a ser automaticamente outra grande bobagem perpetrada no Parque São Jorge. Os caras vão vender pra fazer caixa? Então o time está precisando de dinheiro.

Bola pra frente, um jogo por vez. Riquelme no Timão.

2 comentários:

João de Barro disse...

Ratinho vai, Edson fica, mas Betão é eterno!

Don disse...

Meu comentário será repetitivo, mas não poderia deixar de fazê-lo: Betão é eterno!