segunda-feira, 16 de abril de 2007

Nas brumas da memória – histórias de Alberto Helena Jr. (Parte 2)

Dando prosseguimento à narrativa iniciada semana passada, seguem abaixo mais algumas histórias originadas da visita ao jornalista Alberto Helena Jr.

Souza e Alex Dias

Quiseram os deuses do futebol que o dia de nossa visita ao Alberto Helena Junior fosse, também, dia de jogo do São Paulo, seu time do coração. Assim, acompanhamos com ele pelo pay-per-view do SporTV o jogo em que o time do Morumbi recebia a Ponte Preta.

Como ele mesmo descreveria no dia seguinte, o jogo foi de uma nota só: o São Paulo marcou logo no início e depois ficou trocando passes esperando o tempo se esvair, e tal e coisa e lousa e mariposa. A monotonia do jogo só foi quebrada por um ou outro drible, uma ou outra falta mais ríspida e por uma estocada da Ponte no finzinho do jogo, em que Rogério Ceni virou o rosto e a bola explodiu em suas costas.

O mais marcante do jogo acabaram sendo os comentários do Helena: “Esse vai ser um baita jogador, um grande zagueiro”, comentava, a cada jogada envolvendo Alex Silva. Todos assentimos. Apesar do jeitão meio atabalhoado de quem passou dos 1,90 m, o defensor são-paulino vem desfilando virtudes: posiciona-se bem, é rápido, é tranqüilo e, virtude rara para a posição, tem habilidade com a bola nos pés.

Outro comentário, porém, não teve a mesma unanimidade: “Que jogador, esse Souza”. Eu e o palestrino nos entreolhamos. Em meio às nossas inúmeras desavenças futebolísticas, sempre concordamos que esse jogador pode ser classificado entre os que chamamos enganadores. Sua popularidade deve-se muito mais às provocações que gosta de fazer antes e depois dos clássicos do que à sua real capacidade técnica. Apesar da discordância, silenciamos. Afinal, também o jornalista tem direito às suas idiossincrasias de torcedor.

Torcida que joga contra

A interferência negativa da torcida sobre seu próprio time foi um fenômeno que só poderia ter sido trazido à tona pelo palestrino. Ele lembrou alguns bons jogadores que simplesmente foram linchados moralmente pela torcida do Palmeiras no Parque Antarctica, levando a equipe a perder pontos e até classificações importantes.

Citou, como exemplo, o time de Tuta, Pena e Celso Roth, desclassificado do Campeonato Brasileiro de 2001 após liderar boa parte da disputa. Na ocasião, alguns atletas flagrados na noite paulistana começaram a ser perseguidos pela torcida organizada durante os jogos, levando o time a se desestabilizar. Helena lembrou outros exemplos de injustiçados pela torcida verde, como o “bom lateral (sic) Lúcio”, e disse que esse comportamento é mesmo característico de algumas torcidas mais críticas.

Lembrei que a torcida santista também tem esse hábito, muitas vezes nocivo, de simplesmente não deixar um atleta jogar, e disse que as duas torcidas são semelhantes nesse aspecto. “A torcida do Santos é pior ainda”, concluiu Helena, com a sabedoria de quem viu os torcedores acostumados a Pelé não quererem baixar o padrão de exigência na Vila Belmiro.

O dia em que Battaglia virou são-paulino

Os Battaglia eram uma tradicional família corintiana do Butantã. Compareciam em massa aos jogos no Pacaembu, ocupando uma longa fila nas numeradas do charmoso estádio. Vital Battaglia, caçula da trupe, já acompanhava o pai, irmãos, primos e tios há algum tempo, e aquilo para ele não era mais novidade.

Foi novidade naquela tarde de domingo, em que São Paulo e Corinthians se enfrentavam. O Corinthians marcou primeiro: todos comemoraram. No gol de empate do São Paulo, Vital Battaglia comemorou.

Que bobagem: levou cascudos, tapas, pontapés e agressões diversas de seus familiares. Desgostosos, os parentes foram embora após o jogo (vencido pelo São Paulo) e largaram Vital ali mesmo no Pacaembu.

Ainda dolorido dos safanões recebidos, não restou a Battaglia outro caminho senão voltar a pé para casa. Mas chegou lá mais são-paulino do que nunca.

Mais tarde, Battaglia seria um dos expoentes do jornalismo brasileiro. Iniciou carreira no jornal Última Hora, foi um dos fundadores do Jornal da Tarde, diretor de Esportes da TV Record, comentarista da Jovem Pan. Em meados dos anos 90, foi um dos últimos diretores de redação do falecido diário A Gazeta Esportiva, ao mesmo tempo em que eu tinha lá meu primeiro emprego.

Fantasia & Violência

Helena é defensor ferrenho da fantasia no futebol. Como o Profeta Ezequiel, enxerga no lúdico o cerne do espetáculo, a razão de existência do jogo de bola. Não duvido que, ainda hoje, ele se detenha na cerca de qualquer campinho, observando moleques a tentarem dribles e se imaginando decidindo jogos no Maracanã ou Pacaembu.

Intransigente com a violência fora e dentro de campo, Helena é daqueles que não admite que, em nome de uma suposta defesa da honra, qualquer atleta saia dando pontapés ou socos num companheiro de trabalho só porque este fez uma firula ou lhe aplicou um drible.

“Qualquer drible, qualquer firula - mesmo que não seja na direção do gol - tem uma função: desarmar o adversário”, diz. Explica que todo drible tem uma função no aspecto psicológico do jogo e não pode ser banido ou substituído pela violência – esta sim, desde sempre proibida pela regra.

O palestrino ainda tentou refutar, dizendo que dribles como o protagonizado por Edílson na final do Paulistão de 99 entre Palmeiras e Corinthians, quando parou a bola na nuca e provocou uma briga generalizada, sempre acabam em briga, até mesmo numa pelada. “Numa pelada pode ser, mas entre profissionais é inadmissível”.

Cita como exemplo de comportamento a seqüência de dribles que o pequeno polegar Luizinho, ídolo do Corinthians dos anos 50 e 60, aplicou no lateral palmeirense, o zagueiro Luis Villa. Por fim, para êxtase da torcida, o ponta corintiano sentou-se sobre a bola em frente ao marcador. A reação do leal argentino foi passar a mão na cabeça do endiabrado driblador.

***

As histórias narradas por Helena são inumeráveis, e cada qual mais saborosa do que a outra. Paro por aqui essa breve amostra de ‘causos’, um registro de nossa visita, com a certeza de que ele, por sua pena incomparavelmente mais talentosa, ainda vai tornar nítidas no papel muitas das imagens que hoje habitam apenas as brumas de suas memórias.

3 comentários:

Don disse...

Lúcio bom lateral?!
É, de ve ser mesmo, pensando nos bons e velhos campinhos do Ezequiel...
Mas tudo bem, esse é um dos pontos que faz do futebol o esporte, o lazer, o melhor dos entretenimentos.

Anônimo disse...

1) Não gostei nem um pouco da menção às pessoas que possuem mais do que 1,90. Não é porque temos Aloísio e Peter Crouch entre nós que se deve ter essa idéia equivocada de nós, pobres janjolas. Deus nos deu essa altura para cutucarmos as estrelas. Deve-se observar o bom futebol do Alex Silva, Dida e do Evair do Parque São Jorge, Pinas.

2) Lúcio??? Horrível... merece uma chicotada e perder um dedo do pé pra ver se não fica penso. O Pena mereceu ser hostilizado pela torcida do Parmerinhas pq ele pisou na camisa da porcada, quem lembra?? Eu tb não achava ele ruim e inclusive comentei com um amigo meu meses atrás... ele quase me bateu por causa disso... o cara faltou com o respeito com o Chiqueirão.

3) O drible é necessário no futebol. O futebol é um jogo pra se divertir e vibrar. Quem dá porrada, ainda mais sendo um profissional, deve ser banido do futebol. Chorou, parou. Pede pra sair. PRA CIMA DELES!!

minicritico disse...

E aí, ainda acha o Souza um enganador ou já foi demovido de tão tola ideia?