segunda-feira, 21 de maio de 2007

História recente do Corinthians sem tró-ló-lós

Há soluções no futebol que são tão irritantemente evidentes que nos deixam pensando por que, diabos, ninguém as adotou antes.

Vejamos o exemplo do Corinthians. O clube vem há uma década se endividando, enrolando investidores, para comprar medalhões de salários milionários e formar times de estrelas. A estratégia muitas vezes funcionou, é bom que se diga, principalmente quando os parceiros enrolados eram o banco de pilantras salvo pelo Proer e o fundo de pensão Mickey Mouse & sei lá o quê.

Nessa época, a torcida não parecia preocupada com a dívida estratosférica que o clube começava a acumular, ou com a falta de controle do clube sobre seu Departamento de Futebol. Só queria saber de comemorar os títulos brasileiros de 98 e 99, e o Mundialito fake de 2000.

De um parceiro para outro, a dívida do clube foi crescendo, e a dificuldade de amarrar um investidor, aumentando. Tanto que, a cada novo contrato de parceria, o Corinthians precisou ceder um controle maior do seu core business, o futebol. A torcida continuava comemorando, vibrava com “o melhor lado esquerdo do mundo” e as palhaçadas de Vampeta.

Mas tudo o que vai mal sempre tende a piorar. O Corinthians escolheu como último parceiro uma empresa inexistente, fachada para lavagem de dinheiro da máfia russa – só que esse não é o tipo de parceiro que se consegue enrolar e continuar respirando.

Deu no que deu: contrataram meia dúzia de reforços com títulos podres de dívida e compraram um campeonato meia-boca, inclusive anulando jogos em que haviam sido derrotados. Assim que a investigação sobre as atividades da “empresa” ameaçou apertar, mandaram os principais ativos para o exterior. E quem no Corinthians, em sã consciência, ousaria peitar?

Assim o time ficou, desde a eliminação na Libertadores/2006, sem eira nem beira. A torcida, tomada por um ímpeto de moralidade e decência, começou a criticar a diretoria e cobrar transparência. A diretoria, sem dinheiro e com um contrato em vigência a lhe emperrar novas negociatas, fugiu para a Inglaterra para implorar liberdade ou alguns trocados.

Como vêem, o cenário era tenebroso.

Mas no futebol quase nada é definitivo. Sem recursos para buscar craques do quilate de Roger, Carlos Alberto, Gustavo Nery ou Sebá, o Corinthians teve de olhar para suas categorias de base para conseguir completar o time para os coletivos. E lá encontrou William, Lulinha, Marcelo Oliveira. Outros garotos desconhecidos, como Felipe, Zelão e o ótimo Everton Santos vieram do Bragantino quase de graça.

O Corinthians, como o São Paulo e o Santos, quase sempre se deu bem quando apostou em suas categorias de base. A obsessão por formar supertimes deve ter deixado esse potencial das pratas da casa esquecido.

Felizmente, a falta de dinheiro do clube nos permite redescobrir jovens talentosos e de fibra, que correm atrás da bola com a paixão que o torcedor espera. Não parece ser um time capaz de disputar títulos, claro, mas, para um time que começava o campeonato sendo apontado como candidato ao rebaixamento, a categórica vitória contra o Cruzeiro serve para mostrar que o Corinthians certamente estará mais próximo da outra ponta da tabela, para delírio do profeta Ezequiel...

5 comentários:

Eric disse...

Concordo, meu bom Caiçara. Nem é o caso de profetizar: pintou o campeão. Sobre "as vistas grossas da torcida" quando o time ia bem no campo e mal na gestão, é da natureza da torcida. Haja racionalidade ver o time vencendo Brasileirões e ainda assim virar as costas em nome da moralidade. Eu me envergonhava do Excel e da Mickey Muse, mas fingia que não existiam, que as citórias eram nossas, do time e do torcedor. Este, em sua oceânica maioria, não tem elementos para avaliar as coisas como elas são no desenrolar dos gols e títulos. Só depois vêm as bombas e a rassaca. Vejam os inflamados eleitores de Lula em 2002, os palmeirenses da "Parmalá" e nós outros do Coringão. Mundial fake o cacete e ganhamos o título de 2005 na bola, só pra terminar.

João de Barro disse...

Ainda mais triste observar esse cenário quando se lê matérias como a da Folha de S. Paulo de domingo, que mostra a crescente dívida de clubes com Federações, TVs e empresários.

Flamengo e Vasco reféns de Romário, e por aí vai. Times cheios de estrelas nem sempre dão certo, mas garantem jogos excepcionais como os Palmeiras x São Paulo de 1992 a 1994.

Torço para os caras continuarem na lama, mas a iniciativa é louvável. E serve não só para o SCCP, mas também para SEP, SFC, SPFC e times pequenos do interior.

Ganharam na bola né? Na bola do joelho do Tinga e nos zeros da conta do Marcio Rezende.

Tércio Silveira disse...

Ei Caiçara vc fala de campeonato comprado em 2005 pq levaram 7 a 1 na cachola no Pacaembu. Eu tava lá e deu dó dos santistas. Coitados.

E o jogo na Vila? Que o Giovani chorão chutou a bola pra arquibancada? "Num brinco mais, num sou mais seu amigo".

Rodrigol disse...

O Tércio está certo. Pára de chorar, Caiçara. Dizem por aí que você fez hipnose regressiva para tentar esquecer os 7 a 1, é verdade?

Caiçara disse...

Tércio,

se o STJD não tivesse anulados jogos que o Edílson Pereira de Carvalho confessou não ter conseguido "arrumar", o Corinthians não teria ganhado o campeonato.

Se o Márcio Rezende de Freitas não tivesse no currículo outros títulos, até seria possível imaginar que a não marcação do pênalti de Fábio Costa em Tinga tivesse sido apenas um erro grosseiro. Ah, sim, o Tinga, atingido no joelho, ainda foi expulso no lance.

Pela história do campeonato brasileiro de 2005, estou quase convencido de que, entre os muitos que foram comprados pela MSI, estavam Halisson, Rogério e Saulo, zaga e goleiro do Santos diretamente responsáveis por aquela vergonha.