quinta-feira, 24 de maio de 2007

Pintou o campeão

“E sobre os perturbados imporei dois moleques bons de bola, se o Dualib deixar.” – Ezequiel – I: 9-10.

O amigo leitor não deve saber, mas na Pré-História deste blog os cinco perturbados que o fazem trocavam e-mails às dezenas, diariamente, sobre futebol. O ir e vir de mensagens, porém, ganhava dimensões intangíveis, de tal sorte que poucos aspectos da vida humana deixaram de ser abordados ali – de poesia a pornografia, passando por manifestos revolucionários, planejamento de homicídios, teses filosóficas, enfim, sandices de toda a ordem, incluindo o advento da Escala Fareana de Avaliação, tudo em nome do enaltecimento ou do escárnio do ludopédio e de seus protagonistas mundo afora.

Uma das coisas que se tornaram tradição nessa correspondência alucinada era, a cada início de campeonato, esperar a oportunidade de, dependendo da performance do seu time, poder soltar a frase aí de cima, “Pintou o campeão”, o que soava, pelo menos para mim, como uma conquista antecipada -- de porcaria nenhuma, mas uma conquista sobre os outros.

Pois aqui no blog, com o Timão 100% em duas partidas (!), (re) inauguro, com gosto, o hábito. Outra sandice de torcedor, porque outro dia mesmo metia o pau na tal intertemporada e dizia que esse time se formaria ao longo do campeonato. Nessas duas partidas, entretanto, o Corinthians parece já ter um padrão de jogo, ilusão provocada certamente por William e Everton Santos que estão levando o time nas costas, sem demérito da defesa que ainda não foi vencida. Eu vejo assim.

Esses meninos e o goleiro Felipe podem fazer história no Parque São Jorge e aí mora o balde de água fria. O torcedor do Corinthians hoje tem paixão, mas também tem medo, porque não sabe se o ídolo instantâneo de agora vai estar no time daqui a seis meses.

A julgar pela reportagem da Folha do último domingo, a gente pode começar a se apavorar. As dívidas dos clubes com bancos, Rede Globo e sei lá mais quem transformaram o futebol brasileiro num grande refém que perece a céu aberto.

Resumidamente, a reportagem diz o seguinte: “Dez dos maiores clubes do país devem R$ 1,344 bilhão.

Dirigentes admitem que a situação os deixa acuados. A primeira opção dos cartolas é pedir adiantamentos à Globo, que detém a maior parte dos direitos de TV no país. Há também o apelo aos patrocinadores. Até o final de 2006, os dez times tinham recebido antecipadamente cerca de R$ 150 milhões dessa forma.

"A pendência financeira gera uma posição de fraqueza em qualquer negociação", afirma o vice de finanças do Corinthians, Emerson Piovezan. Entre os corintianos, as antecipações de rendas geram dependência com a Federação Paulista de Futebol, que emprestou R$ 7,9 milhões ao clube. Efeito colateral: complacência com arbitragens e com os contratos do Estadual. E não chia também com a CBF, a quem deve R$ 1,5 milhão.”

Incluído o imbróglio Nilmar, o Corinthians deve mais de R$ 100 milhões.

Pintou o campeão de dívidas e da má gestão.

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